Cuidar de um outro coração

Raramente um diagnóstico de Insuficiência Cardíaca (IC) afeta apenas quem sofre da doença. Cônjuge, família e amigos próximos são muitas vezes o apoio e principal fonte de cuidados em casa, abraçando novos desafios e lidando com as suas próprias emoções enquanto tentam ajudar da melhor forma quem deles precisa.

Se muitas vezes o papel de cuidador é deixado a cargo de um profissional, é também frequente que esta posição seja assumida por alguém próximo de um paciente com IC. Cônjuge e os familiares mais próximos, como pais, filhos ou netos, são os cuidadores não profissionais mais comuns, vendo-se a braços com novas rotinas que, a início, podem ser difíceis de gerir. Porém, com o devido apoio e seguindo as instruções da equipa médica, este é também um papel que pode ser extremamente gratificante.

Ao ser cuidador, é importante perceber que o doente, sempre que possível, deve fazer a autogestão da sua IC. O prestador de cuidados é “apenas” um apoio fundamental, seja na doença prolongada e de desenvolvimento gradual, ou nos casos repentinos, que surgem, por exemplo, após um ataque cardíaco.

Incentivar o paciente a seguir as recomendações médicas e garantir que cumpre com as mudanças de hábitos de vida e o plano de medicação sugerido, demonstrando-lhe o quão importante isto é para o sucesso do tratamento, é outra das formas de ajudar. Uma boa solução é adotarem estes novos hábitos em conjunto, para que o seu familiar sinta que não está sozinho: se deixar também de fumar, optar por uma alimentação mais saudável e praticar exercício físico, estará não só a cuidar de si como a tornar mais fáceis as adaptações de quem está ao seu cuidado.

Uma das funções mais importantes do cuidador é prestar apoio emocional ao seu ente querido, tranquilizando-o, elogiando-o nas pequenas conquistas e simplesmente estando presente para o ouvir e acompanhar.

Em termos de cuidados médicos, é aconselhável que acompanhe o seu familiar em todas as consultas e exames, não só para o apoiar mas também para estar a par dos desenvolvimentos e conselhos dos profissionais de saúde e poder auxiliar na toma dos medicamentos e outros aspetos do tratamento. Em casa, deverá estar atento aos sintomas, mantendo-se alerta para quaisquer sinais de aviso, para além de ajudar o doente a manter um registo da sua saúde, nomeadamente do peso, frequência cardíaca e pressão arterial.

Perceber os desejos do seu cônjuge ou familiar em termos de cuidados médicos e questões financeiras e ajudá-lo a concretizá-los não é sinónimo de desistir, mas uma forma de garantir a paz de espírito mais tarde, permitindo-vos concentrarem-se em viver o presente de forma mais plena.

Finalmente, não se esqueça de cuidar de si. Fale com os que lhe são mais próximos sobre aquilo que sente, procure um grupo de apoio onde encontrará pessoas em situações semelhantes à sua e não deixe de reservar algum tempo para si, de maneira a sentir-se mais capaz de gerir todas as emoções e desafios associados a esta experiência.

Quando o coração não chega

É esperado do coração saudável que bombeie sangue para todo o organismo, levando oxigénio e nutrientes preciosos a todo o corpo. Mas, para quem sofre de insuficiência cardíaca, este é um processo bem mais complicado.