Articular cuidados, formação e dados. O que é urgente fazer pela Insuficiência cardíaca?

É preciso investir na formação de profissionais de saúde especializados na área da cardiologia. É preciso atualizar a informação relativa à doença e criar uma rede articulada entre os diferentes cuidados. É preciso que os documentos de análise da doença em Portugal não fiquem na gaveta. Estas foram algumas das prioridades definidas e apresentadas pelos especialistas que participaram, nesta terça-feira, na primeira sessão do ciclo de conferências online que a Global Media Group, com o apoio da Novartis e da Medtronic, está a realizar até quinta-feira, dia 8, das 18.30 às 20.00, subordinado ao tema Insuficiência Cardíaca - Uma Estratégia para Portugal.

Em Portugal, estima-se que haja 400 mil pessoas que sofrem de insuficiência cardíaca (IC), a doença em que o coração para temporariamente, impedindo o sangue de circular em quantidades suficientes pelo organismo. No entanto, a esta estimativa falta “rigor”, diz Vítor Gil, presidente da Sociedade Portuguesa de Cardiologia, “já que os números amplamente divulgados têm por base dados reais já com 20 anos”.

A atualização da informação relativa a esta doença é uma das principais preocupações apontadas no documento “Consenso Estratégico para a Insuficiência Cardíaca em Portugal”, que resulta do trabalho e discussão de muitos especialistas – médicos, enfermeiros, diretores, administradores de unidades de saúde, associações de doentes, autoridades de saúde e indústria farmacêutica.

O documento – que foi apresentado nesta terça-feira na primeira sessão do ciclo de conferências online sobre a Insuficiência Cardíaca – Uma Estratégia para Portugal, moderado pelo jornalista Paulo Baldaia, e que está a ser transmitido nos sites do DN, do JN e da TSF até ao dia 8, entre as 18.30 e as 20.00 – fala na necessidade de sensibilizar a população para o que é a IC e na forma como devem ser tratados estes doentes.

A importância de apostar na prevenção e de reformular a organização dos cuidados de saúde, tornando-os mais articulados, é outra das questões referidas no documento – o qual foi elaborado ainda com o apoio da Universidade Católica e das empresas farmacêutica e de tecnologia médica, Novartis e Medtronic. E o alerta dos especialistas vai para o facto de ser absolutamente necessário saber-se como pode um doente que esteve hospitalizado ser depois acompanhado pós-alta. É preciso lembrar que a IC é a primeira causa de hospitalização em Portugal depois dos 65 anos.

Para os múltiplos autores do estudo – que começaram a reunir-se em julho do ano passado – é preciso tornar estas inquietações em prioridades. “Espero que estas orientações sejam um ponto de viragem na resposta à IC em Portugal”, afirmou Sara Marques, coordenadora do estudo e representante da Heart Failure Policy Network, uma rede multidisciplinar europeia naquela área, logo no início da conferência, em direto, e a partir de Londres, onde está sediada.

Victor Gil, presidente da Sociedade Portuguesa de Cardiologia, o primeiro a participar para marcar a abertura desta sessão do ciclo de conferências, no qual participaram ainda o coordenador do Programa Nacional para as Doenças Cérebro-Cardiovasculares, Filipe Macedo, e o presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública, Ricardo mexia, afirmou mesmo: “A IC é um importante problema de saúde cardiovascular, tendencialmente crescente, mas não existe até agora um plano de ação como acontece para o enfarte do miocárdio ou para o AVC, nem um modelo estruturado de acompanhamento dos doentes.”

O cardiologista sublinhou haver “algumas experiências louváveis existentes no país, que resultaram de iniciativas autónomas, mas sem uma rede de articulação funcional definida com os diversos níveis de cuidados e com o programa nacional de reabilitação cardíaca”.

Já para o presidente da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública, Ricardo Mexia, a IC afeta uma população cada vez mais envelhecida que manifestará consequentemente mais doenças crónicas. “A IC tem um papel que não podemos descurar”, referiu. “É certo que agora implicará uma dotação de recursos”, continua Ricardo Mexia, mas “são recursos que vamos poupar mais tarde”.

Se as pessoas souberem a que sintomas devem estar atentas (pernas e pés inchados, cansaço, dificuldades respiratórias) e onde se devem dirigir; se os doentes depois de diagnosticados tiverem um acompanhamento regular, com boa comunicação entre os diferentes níveis de cuidados, o volume de doença grave pode diminuir, acreditam os especialistas. ​​”Se passarmos às ações, estas irão materializar-se em ganhos para o sistema de saúde e para os cidadãos”, defendeu o médico de saúde pública.